#1 por que aniversários são tão assustadores?
Como superei o medo de ficar mais velha e fiz as pazes com as versões da minha vida que nunca se realizaram.
Daqui a exatamente uma semana é o meu aniversário de vinte e cinco anos (yay!!) e, acredite ou não, essa é a primeira vez que não sinto angústia ao pensar nisso.
A ideia de ficar mais velha me assustava desde que eu era criança, quando eu lembro de pedir repetidamente à minha mãe para nunca me deixar crescer. Eu não tive uma infância fácil e parecia saber que os anos que estavam por vir seriam ainda mais complicados. Então, tudo que eu queria era esticar o tempo e aproveitar um pouquinho mais da época em que era exigido de mim apenas o que eu era capaz de oferecer.
Inevitavelmente, não deu certo.
A insatisfação com a forma que o tempo me era “roubado” permaneceu. Minha adolescência foi marcada pela assunção precoce de responsabilidades e pelas altas expectativas sobre a filha que nunca deu trabalho, que sempre teve as melhores notas e que, sem dúvidas, teria um futuro brilhante. Eu me esforcei tanto para não decepcionar ninguém que, quando cheguei ao outro lado, senti que boa parte dos meus anos tinham sido um grande borrão.
A crise bateu forte quando completei vinte anos. Eu tinha acabado de me formar na faculdade, mas não tinha amigos, nem histórias engraçadas para contar, nem um amor de adolescência que havia partido o meu coração. Nunca tinha feito besteira no cabelo. Não tinha assistido aos filmes que todo mundo conhecia. Eu não tinha nada.
Não… Eu tinha Ele.
E é aqui que essa newsletter deixa de ser apenas “confissões de uma garota frustrada” e passa a ser um testemunho de alguém que teve sua perspectiva restaurada por Cristo. Enquanto eu olhava para as coisas que havia perdido, que nunca havia experimentado, que tinha deixado passar, o Senhor me lembrava que durante todos esses anos minha vida esteve nas mãos dEle. Que eu vivi o que Ele havia permitido. E que eu estava sendo tola demais, perdendo o presente, enquanto me lamentava pelo passado.
E essas foram algumas coisas que Ele me ensinou:
Você não desperdiça anos que entregou ao Senhor
Tenho uma caixinha onde coloco todos os pensamentos que roubam minha paz. Se penso neles repetidamente, escrevo num papel e coloco lá. Se chama “caixa de Deus”.
Durante a crise dos vinte, rabisquei um “Senhor, o que eu perdi aos dezesseis?” e coloquei na caixa, esperando não por uma resposta, e sim que Ele tirasse aquele peso do meu peito.
Só que ele respondeu enquanto eu lia um diálogo do livro “Com devoção”, de Valerie Elliot Shepard:
“Perdido?”, disse o Pai.
“Sim, perdido”, disse eu.
“Mas pensei que você tivesse me dado esses anos.”
“Sim, Senhor, eu dei. Eles eram teus.”
“Então, eles não estão perdidos. Eles estão guardados no estoque celestial. Algum dia você verá a glória…”
Uma das coisas que aprendi com Elisabeth Elliot é que tudo pode se tornar uma oferta. Enquanto lia sobre a história da missionária e seu primeiro marido, Jim Elliot, meu coração se inquietava com a forma com que ela enxergava tudo sob a perspectiva eterna. Quando finalmente cheguei a esse trecho, tive a exata resposta que eu precisava. Eu precisava lembrar que minha vida não pertencia a mim mesma. E se eu tivesse que “perdê-la” para que os propósitos do Senhor se cumprissem, será que não valeria a pena?
O que são teenage years diante da eternidade?
Estamos dispostos a perder coisas pelo Senhor mas apenas se elas nos parecerem dignas e grandiosas. Mas existem pequenas renúncias, que nem ousamos chamar assim, que também nos levam para o lugar do propósito, se nos deixarmos conduzir por Ele.
Eu não havia perdido os meus anos de juventude.
Eu os havia depositado no altar.
Você está repetindo o erro
Meu maior arrependimento com vinte e poucos eram das coisas que não tinha feito quando era adolescente — a época em que eu estava na escola, não sabia o que eram impostos, e que poderia ser imatura e ouvir alguém dizer “ela é só uma adolescente” (não é engraçado que ninguém diz “ele é só um adulto”? parece que perdemos a tolerância para erros quando crescemos).
Só que enquanto isso, o Senhor me levou ao futuro. Como Scrooge, no conto de Charles Dickens, eu me imaginei com trinta anos. Eu não estaria arrependida das coisas que não fiz quando adolescente e sim das coisas que não fiz com vinte e poucos, o exato momento que eu poderia aproveitar agora mas estava perdendo enquanto me lamentava do passado.
Eu estava repetindo o erro.
Foi nesse momento que decidi fazer algo pela Vitória do futuro, e não pela do passado. Decidi fazer as coisas que estavam disponíveis agora, nesse momento. Cortar uma franja. Pintar o cabelo (me arrependi depois, ressecou demais!). E ir a um show sozinha da banda que eu amava — Morada, você sempre vai estar na minha memória!!!
Existia tanta coisa boa que eu poderia fazer. Eu estava viva, caramba! Por que passei tanto tempo obcecada pelo que era inacessível se Jesus havia me dado tantas oportunidades de ser feliz no agora?
Se você não for egoísta, ficar mais velho é muito legal
Essa foi uma das últimas coisas que o Senhor me mostrou sobre a beleza de amadurecer: eu podia servir.
Na verdade, isso só ficou claro para mim depois que me tornei escritora. Comecei a receber testemunhos sobre os meus livros (escrevo ficção cristã, a propósito, vou deixar o link dos meus livros no final \o/) e mensagens de meninas mais novas que também desejavam ser escritoras falando que minhas histórias as tinham inspirado de alguma forma.
O que você fez, Jesus?!
O meu ministério fez arder em mim um amor genuíno por aquelas pessoas. Eles se tornaram mais do que leitores. Se tornaram família. E eu não era a adolescente da casa. Eu era a irmã mais velha.
Era maravilhoso poder dar conselhos, passar um pouco das experiências que tive — tanto no Senhor como na vida — e ver Deus finalmente descortinar o propósito que até então havia sido um mistério para mim.
Até hoje não entendo o porquê de ter vivido certas coisas, mas creio que Ele sempre teve um propósito, e quando eu finalmente perceber qual foi, vou agradecê-lo por isso.
Tudo bem não ter experiências que todo mundo teve. Sua história é só sua. Tenha orgulho dela ;)
Eu me culpava muito por não ter vivido o que parecia ser uma regra.
Você tem mesmo que viajar aos quinze? Precisa ter um namorado antes dos dezoito? Precisa decepcionar seus pais? Precisa reprovar em alguma matéria? Quem disse que essas coisas são obrigatórias para você dizer que viveu a adolescência de verdade???
Acredito que todo mundo tem experiências boas e ruins. Não dá para experimentar tudo, ir a todos os lugares e ser todas as versões que você imaginou. Então, o melhor que podemos fazer é desistir. Desistir de atender às nossas próprias expectativas do que a vida deveria ser e aproveitar o que ela realmente é.
Se tivermos Cristo, temos tudo que precisamos.
É por isso que no dia primeiro de fevereiro de dois mil e vinte e cinco, pela primeira vez em anos, eu não estarei mais tão assustada. Ficar mais velha, me tornar adulta e deixar para trás tudo que minha vida “poderia ter sido” ainda soa como uma espécie de luto. Mas isso não quer dizer que seja o fim. Ouvi Alguém dizer que a semente precisa morrer para que novos frutos nasçam. E se Ele for o meu Jardineiro, então tudo bem. Ele sabe o que está fazendo. E eu mal posso esperar para ver no que Ele vai me tornar, porque Ele tem um plano, um futuro e uma esperança.
Tanto aqui como aí do outro lado também ;)
Livros citados:
Com devoção - Valerie Elliot Shepard
Isso aqui foi como a calmaria que meu coração tanto precisava. Sempre ouvi as pessoas dizerem que, depois dos 25, os 30 chegam a galope, e essa ideia sempre me trouxe um certo medo. Ao olhar para trás, enxergava meus anos como borrões, uma mistura confusa de momentos marcados por expectativas gigantescas que, no fim, não foram alcançadas. Mas hoje, graças a você, Vit, eu me lembrei de algo essencial: o Tudo que eu buscava sempre esteve aqui comigo. Obrigada por me trazer essa verdade de volta ao meu coração.
Amém, Vi! Como sempre, sua escrita me fazendo chorar e Deus te usando para dizer o que eu precisava ouvir nesse dia, me senti descrita em várias coisas ♡ obrigada pro compartilhar isso com a gente! Deus abençoe!